Por Rafael Vasconcelos
Peter Slade em seu livro O Jogo Dramático Infantil, faz contribuição significativas para um trabalho em sala de aula, usando a linguagem teatral como material didático. Slade apresenta de forma sucinta e prática, meios para que o professor possa utilizar o teatro em sala de aula como um bem maior, muito mais do que uma representação de cena, ele nos mostra de forma clara e objetiva como utilizar do jogo teatral para transformar o aluno. Transformações esta de extrema importância para o viver escolar da criança, despertando o sentido de pesquisa, desinibição, trabalho em equipe, respeito às regras dentre tantos outros pontos primordiais para o bom desenvolvimento do aluno.
Ao contrário do que muitos possam imaginar, a relação entre teatro e jogo teatral é estreita. Não é raro encontrar professores que utilizam deste método teatral como forma única de representação, com isso, diversas frustrações são sentidas pelo educador. O teatro é muito mais que a escolha de um bom texto e distribuição de personagens. Slade foca o teatro como forma de conhecimento particular e meio de descoberta pessoal da criança.
Em seu livro fica evidente o estreitamento da relação entre teatro e jogo teatral, uma vez que muitos educadores partem desta atividade para conceber seus espetáculos. Nota-se que o objetivo de se trabalhar com jogos teatrais em sala de aula é a de visar a passagem do teatro concebido como ilusão para o teatro concebido como realidade cênica. Com isso fica claro que tão estreita pode ser a relação teatro e jogo, quanto jogo e vida. Esta falta do jogar na vida do indivíduo, ou seja, da criança pode significar uma parte importante do seu ser, como perdida. E é justamente esta parte perdida, desconhecida e não criada do seu próprio eu, que passa a ser um elo perdido dando vazão a causas e dificuldades que a criança enfrentará nos anos que virão de sua vida. (SLADE, 1978, p.20).
Defendendo esta idéia Slade vem como precursor do teatro criativo, definindo sua terminologia jogo dramático infantil como: “uma forma de arte por direito próprio, não é uma atividade inventada por alguém, mas sim o comportamento real dos seres humanos.” Segundo ele, o jogo dramático “é uma parte vital da vida jovem. Não é uma atividade de ócio, mas antes a maneira de a criança pensar, comprovar, relaxar, trabalhar, lembrar, ousar, experimentar, criar e absorver” (SLADE, 1978, p.17).
Slade vai além e atribui a simples ação do jogar, neste caso dando o sentido do brincar e faz de conta; como um impulso primordial a raiz do jogo dramático. A brincadeira pode vir como forma de representar, representação esta que faz com que a brincadeira teatral infantil apresente ocasiões de caracterizações e situações emocionais com tamanha nitidez, que com isso, acabam por ascender à criança para o jogo dramático. As categorias propostas por Slade não estão de acordo com a distinção entre jogo realista no qual a situação a ser encenada é logo de cara pré estabelecida pelo orientador, seja ele, professor ou diretor teatral; e jogo imaginativo, em que a atividade em que a encenação é o fruto da imaginação e criatividade particular do indivíduo, não contando assim com qualquer tipo de interferência externa, como estabelecem alguns teóricos. Slade expõe sua opinião sobre a questão:
[...] “o jogo (e certamente nos estágios mais precoces) é tão fluído, contendo a qualquer momento experiências da vida cotidiana exterior e da vida imaginativa interior, que se torna discutível se um deveria ser encarado como uma atividade distinta do outro. É importante, naturalmente que a diferença seja compreendida, mas a distinção pertence mais ao intelecto do que ao jogo propriamente dito. A criança sadia se desenvolve para a realidade à medida que vai ganhando experiência de vida” (SLADE, 1978, p. 19).
Slade, porém, não destrói o jogo realista, pelo contrário, ele ainda o sugere dentre as dinâmicas e exercícios descritas e propostas por ele. O que ele defende é o fato de que o mediador (professor ou diretor teatral), não efetive uma divisão entre esse jogo e o jogo imaginário, uma vez que, na prática, tanto um quanto o outro dificilmente são unidos. Sendo o autor propõe a distinção entre jogo projetado e jogo pessoal. O primeiro caso é “mais evidente nos estágios mais precoces da criança pequena, que ainda não está pronta para usar seu corpo totalmente” (SLADE, 1978, p. 19). "Por conta disso, no jogo projetado, o corpo é usado com algumas restrições, ao contrário da mente, que é amplamente ativada. Há uma tendência à quietude e a principal parte do corpo utilizada são as mãos, pois essa categoria conta com a presença de objetos ou brinquedos que “ou assumem caracteres da mente ou se tornam parte do local [...] onde o drama acontece” (SLADE, 1978, p. 19).
É por volta dos cinco anos de idade que o jogo pessoal se manifesta e se intensifica de acordo com o controle exercida pela criança sobre o seu corpo. De acordo com Slade “é o drama óbvio: a pessoa inteira ou o ‘eu’ total é usado. Ele se caracteriza por movimento e notamos a dança entrando e a experiência de serem coisas ou pessoas” (1978, p. 19). Nota-se, nesse caso, a disposição da criança para o barulho e para o esforço físico.
Em se tratando da influência do jogo na vida da pessoa, pode-se esperar, segundo o autor, contribuições específicas de cada categoria. Do jogo projetado pode-se ter, como provável, o desenvolvimento de atividades relacionadas à arte, jogos e esportes calmos, bem como a habilidade em ler e escrever. Já do jogo pessoal, espera-se a contribuição na propagação das mais variadas formas de atuação, tais como esportes que envolvem ação, liderança e controle pessoal.
0 comentários:
Postar um comentário