LETRAMENTO DIGITAL

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O SAMBISTA SEM VOZ

Por Rafael Vasconcelos


O Mundo ainda se recuperava do trauma do naufrágio do maior navio já construído até então, o Titanic, quando a exatos 85 dias após, no dia 06 de julho de 1912, vem ao mundo João Rubinato. Filho de Fernando e Ema Rubinato, imigrantes italianos de Veneza que se radicaram no Brasil, mais precisamente na cidade de Valinhos interior do estado de São Paulo. Sua data de nascimento foi adulterada para 06 de agosto de 1910, para que o garoto pudesse mais tarde vir a trabalhar. Ainda pequeno muda-se com os pais para a cidade de Jundiaí, interior paulista, e é matriculado na escola Siqueira Moraes onde hoje funciona a Pinacoteca de Jundiaí, antigo espaço da Biblioteca Municipal Profº Nelson Foot.

            Neste mesmo período o garoto, já com sua data de nascimento adulterada, é contratado para trabalhar nos vagões de cargas da estrada de Ferro Jundiaí – Santos. Desde cedo a mãe Ema lutava para que o filho freqüentasse a escola, efeito este que só era obtido após algumas sessões de varas de marmelo. Em 1924, muda-se para a grande São Paulo na cidade de Santo André, onde arruma o ofício de tecelão, pintor, encanador, serralheiro, mascate e garçom. Matricula-se na escola Liceu das Artes onde se qualifica a Ajustador Mecânico. Com experiências profissionais como bagagem, decide se mudar para a capital paulista e passa a morar em uma pensão. Neste período o jovem com apenas 12 anos de idade, começa a compor suas primeiras canções. Após muitos gongos no programa de rádio de Jorge Amaral, João vence um singelo concurso com o samba Filosofia de Noel Rosa.

            Em 1933, João assina contrato com uma rádio paulista e passa a cantar em um programa semanal de 15 minutos, com o acompanhamento de bandas regionais. É neste ano que João Rubinato muda seu nome de batismo para o nome que veio a consagrá-lo no Brasil, Adoniran Barbosa. A escolha do nome Adoniran foi uma homenagem ao amigo de longas boemias e o Barbosa foi extraído também em uma homenagem do sambista Luiz Barbosa, grande ídolo do compositor na época.  No ano seguinte compõe em parceria de J. Aimbarê, a marchinha de carnaval Dona Boa. Canção que lhe rendeu o 1º lugar no concurso carnavalesco organizado pela Prefeitura de São Paulo, no ano seguinte. Com o sucesso estrondoso da marchinha, decide se casar com Olga, uma moça que namorava há um tempo. Seu casamento durou pouco menos de um ano, mas foi do fruto deste relacionamento que nasce sua única filha, Maria Helena. O sucesso desta canção o leva a assinar contrato com a Rádio Record onde só saiu após sua aposentadoria em 1972. E Foi lá que Adoniran passou a desenvolver outros dotes artísticos, como o humorismo e o rádio-teatro.

            Com um bom contrato e já reconhecido pelos paulistanos, Adoniran cria mais um de seus maiores sucessos, desta vez não foi um samba e sim os personagens que ele mesmo protagonizou, Pernafina e Jean Rubinet. Em 1945, estréia no cinema com o filme PIF-PAF. Casa-se pela segunda vem em 1949, com Matilde de Luttis, que veio a ser sua companheira por mais de 30 anos. Matilde além de esposa, também dividiu composições com Adoniram nas canções Pra que Chorar? e A Garota Vem Descendo. Foi no filme, O Cangaceiro, de Lima Barreto, na indústria cinematográfica Vera Cruz que Adoniran tem o seu maior desempenho e reconhecimento. Nesta época compõe sucessos como que quase sempre foram gravadas pelos paulistanos sambistas, Demônios da Garoa. Mais prêmios em concursos foram conquistados com as canções Malvina e Joga a chave. Dentre as canções também premiadas estão, Samba de Ernesto, Trem das Onze, Saudosa Maloca dentre outras.

            Em 1955 estreou sua mais nova criação, o personagem Charutinho, que veio a ser o seu maior sucesso no rádio, no programa Histórias das Malocas de Oswaldo Molles. Se não bastasse a sua contribuição artística no rádio como cantor, compositor e ator, Adoniran também faz parte da história televisiva brasileira, participando das primeiras tele novelas da TV Tupi, como por exemplo, A Pensão de D. Isaura. Mas o seu reconhecimento de fato só veio com a gravação de seu primeiro disco em 1973. Período este que o Brasil o reconhece como um grande compositor. Passou a maior parte da sua vida no bairro do Bixiga, Bela Vista em São Paulo. Tal paixão pelo o seu bairro de coração, pode ser nitidamente sentida em muitas de suas composições. Tanto que lhe rendeu um espaço no Especial de Elis Regina transmitido pelo canal Bandeirantes, ao qual durante um bate papo vai apresentando seu bairro a cantora, até pararem em um botequim e soltarem o gogó na boa e velha, Saudosa Maloca. Esta sua participação no programa da amiga Elis Regina, ainda mostra em um determinado momento quando ambos passam em frente a uma discoteca e Elis decide entrar para curtir o som de Rita Lee, que alçava vôo solo. Adoniran se recusa a acompanhá-la sob a justificativa de preferir o velho ao novo, se referindo ao novo estilo musical da ex Mutante.

            Infelizmente, Adoniran é até hoje lembrado como sendo “aquele sambista que não teve voz na metrópole”. Mesmo após a sua morte até os tempos atuais, ainda é possível relembrá-lo com suas belas canções regravadas por artistas ilustres da atualidade, como Ivete Sangalo em parceria com Demônios da Garoa em Trem das Onze. Na capital paulista, mais precisamente na rua XV de Novembro, está o Museu de Adoniran Barbosa, no bairro do Bexiga. No Parque do Ibirapuera, um albergue para desportistas carrega o seu nome, assim como também tornou nome de uma das ruas do Bexiga e na Praça Don Orione há um busto em sua homenagem. Adoniran Barbosa ainda é uma praça e no Bairro Jaçanã muito conhecido por uma de suas autorias, possui uma rua com o nome Trem das Onze.

1 comentários:

Sonia Salim disse...

Gostei muito de conhecer a história de vida de Adoniram Barbosa. Parabéns, Rafael!
Grande abraço!

@soniasalim #ostra sem fronteiras

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