Professor Rafael Vasconcelos

O Portal das Letras é um espaço dedicado aos alunos e professores. Aqui você encontrará: Aulas, Projetos, Slides, Fotos e Vídeos, Atividades, Textos e muito mais...

LETRAMENTO DIGITAL

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

2010

Olá, caro blogueiros.

É com muita satisfação que faço o meu último post de 2010. 
Este ano com certeza foi e sempre será muito marcante em minha vida. Foi um ano de divisores de mares, e já posso adiantar de ante mão que, minha vida poderá ser classificada em antes e depois de 2010.

Em 2010 eu ri, chorei, sonhei, realizei, me desesperei e amei.

Foi um ano que decisões importantes foram tomadas e acredito que 2011 será o meu ano. Sempre tive a opinião de que todo ano ímpar para mim é uma caos, mas tenho motivos de sobra para dizer que esta regra será quebrada!

Agradeço a minha família por ter estado ao meu lado em todos os momentos, por ter me apoiado em todas as minhas decisões e por estarem sempre ao meu lado quando eu precisei. Fátima e Rafaela, vocês duas são os meus pilares, sem vocês toda a minha estrutura desaba. Obrigado Deus por ter feito com que eu tenha estas duas mulheres em minha vida.

RETROSPECTIVA 2010

2010 começou num mix de glória e sofrimento. Na virada do ano, no 1° dia de 2010 eu já o começava em grande estilo, realizando um dos meus sonhos: Conhecer o Rio de Janeiro. O Reveillon em Copacabana e todas as amizades e momentos que lá passei, ficarão eternamente cravados em minha memória. Mas foi também no Rio de Janeiro que eu decidira dar um passo importante em minha vida: Terminar com o meu relacionamento de 3 anos. Estávamos numa crise sem fim, e por mais que nos amássemos, não dava mais para seguir adiante. Foram tempos difíceis, mas primordiais para o meu crescimento pessoal.

Nesta fase eu aprendi muita coisa com a mesma intensidade que as vivi. Tive novos romances, novas amizades e novos trabalhos. Mas como o manda o ditado popular, "O que é do homem o bicho não come", quatro meses após o fim deste relacionamento, voltamos e vimos que o nosso amor é incondicional. Hoje posso dizer que me sinto feliz, realizado e agradecido. Pois o que muitos levam anos e talvez a vida inteira para conseguir, eu consegui aos 23 anos: Encontrar meu verdadeiro, grande e único amor.

Vida, obrigado por estar sempre ao meu lado.

Até o início do 2° semestre eu trabalhei numa empresa alimentícia, totalmente fora da minha profissão. Logo que lá entrei,  cada segundo que eu passava lá dentro eu tinha vontade de chorar, gritar e correr. Com os dias eu fui descobrindo que se hoje sou o que sou, foi graças a empresa CBA. Foi neste lugar que eu fiz amizades incríveis e mesmo após a minha saída, ainda se fazem presente e não consigo me imaginar sem a cia. deles. Obrigado a todos vocês.

Decidido a dar um salto em minha vida e começar a trilhar o caminho da minha real profissão, a educação, fiz o que para muitos foi uma loucura, mas que para mim foi uma dádiva em todos os aspectos. Pedi a conta na empresa e fui trabalhar como Educador numa unidade de internação de menores infratores em cumprimento de medida socioeducativa. Foi aí que um novo Rafael nasceu.

Foi nesta unidade que todos os meus paradigmas foram quebrados. Ao lado daqueles adolescentes eu aprendi a amar o próximo de verdade, aprendi a ser homem, a ser humano! Não tenho dúvidas de que aquelas "crianças" me ensinaram muito mais do que eu poderia ensinar a eles. Sem dúvidas foi um marco profissional em minha vida.

Daí que eu decidi fazer então a minha pós graduação em Arte Educação. FANTÁSTICO. Além de adquirir conhecimentos incríveis nas artes (arte visual, história da arte, teatro e música), mais uma vez, pessoas incríveis entraram em minha vida. Algumas delas, ou pelo menos, duas delas, se farão presentes por muito tempo. Até um primo que eu sequer imaginava que existia, o descobri durante o curso.

2010 foi o ano do 'BOOM' das Redes Sociais, e outra vez pude ter contato e conhecer pessoas pra lá de especiais. 

2010 foi um ano de mudanças sutis, porém drásticas e fortemente marcante tanto pelo o meu crescimento pessoal, quanto profissional.

2011, como já mencionei, promete ser o ano, ou melhor dizendo, O MEU ANO. Ele ainda nem começou e eu já estou completamente ansioso com a chegada dele. Emprego novo, escola nova (e que escola), e projetos e mais projetos.

2011

Para este novo ano, muitas coisas estão por vir.
  • Um grande projeto está sendo pensado ao lado de uma nova e grande (mesmo ela tendo um metro e meio, rs) amiga. Coisas boas e importantes irão acontecer. - Mas só conto depois que tudo estiver concretizado.
  • Terei uma Home Page. Uma página na internet só minha (www.abcdorafa.com.br). Ela deve estar na rede no máximo até o início de março. O layout e todo o mais está em estudo e sendo cuidadosamente pensada por dois grandes profissionais da área. Quando criei este blog, eu não imaginava o quão ele atingiria Brasil a fora e recebo e-mail's diariamente de Norte a Sul, Leste e Oeste; deste nosso lindo país: Brasil. Pensando nisso é que este blog se tornará um web site. Será um espaço com dicas de livros e filmes pedagógicos, acessos aos PCN's, Planos de Ensino, de projetos educacionais e muita coisa bacana. Tudo voltado a educação e ao meu profissional. Aguardem!
  • E tem mais coisinhas que só contarei depois de concretizadas.
AGRADECIMENTOS

Eu não poderia jamais encerrar o ano em meu Blog, sem agradecer algumas pessoas. Aos nomes citados, o meu muito obrigado por tudo. Por estarem ao meu lado, me incentivarem, me apoiarem, por me ajudarem sempre, por sempre estarem com os seus sorrisos e braços abertos para mim. Amo a cada um de vocês. são muitos, mas cada um tem a sua real importância em minha vida e desde já sintam-se abraçados e beijados por mim. Como dizemos no teatro - MERDA PATA TODOS E FELIZ ANO NOVO!!!

Valeu galera da minha vida: Eduardo (DU), Fátima (Mãe), Rafaela (Irmã); Galera do Twitter: @camilagcruz, @WalcyrCarrasco, @gloriafperez, @AnaFlaviaOppa, @DiiegoMaia; Thurminha de Analândia: Vêronica, Day Salgado, Eliane (Mamis 2); Gaby Salgado; Meus lindos da FACCAMP: Odair e Pedro Henrique (duas pessoas pra lá de especiais em minha vida), Evaldo (meu primo bastardinho, rs), Cléber Lima (meu professor, mestre, ídolo e AMIGO; Galera da CBA: Natália, Vivi, Adriano, Joab, Gui, Rute, Michele, Ana, Débora, Cassiano, Elaine Lima, Fer, Cris, Sandrinha, Sandra Manzanos, Layla, Eliane Balieiro, Luciana Lazarin, Luana Facchini, Karim Lima, Larissa Negri, Fátima (mamis da Nati), André, Taís, Paty Sacagni, Pri, Paula, Aline Gobato, Arlene, Marly Caldas; Ao pessoal do teatro Cia. das Artes: Manu, Leo Amigo, Léo, Luciana, Luh, Netto e todos os demais; A galera do Rio - AMO VOCÊS: Renato Bavier, Flávia Guedes, Katiuscia Canoro, Fabiana Karla, Rodrigo Fagundes, Wendell Bendelack, Ataíde Arcoverde, Tony Tornado, Luiz Miranda, Carolina Ferraz, Naná (BBB), A toda a equipe de produção de Viver a Vida, Blota Fillho, Paulo Betti, Edwin Luisi, Reynaldo Gianecchini, Mateus Solano, Mateus Carrieri (Grande Mateus), Rodrigo Lopez, Rodolfo Bottino (não tenho o que dizer sobre você), Beto Marden, Nizo Neto, Beth Guzzo, Eliana Fonseca, Leonardo Medeiros, Lucimara Parisi, Xuxa Lopez, Magali Biff, Lucia Verissimo e André Gabeh (BBB) - Valeu pela excelente hospitalidade e pelo Reveillon inesquecível; Profissionais da Fundação Casa; Colégio Criação de Campo Limpo Paulista (em especial ao Daniel, Selma e Marilene) e ao Colégio Memorial (minha nova casa).

Aqueles que não citei, não se tornam menos que ninguém: AMO todos os que de alguma forma fazem ou fizeram parte do meu ano de 2010.  

VLW GALERA - E que venha 2011


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Pretérito Imperfeito.

Em minha vida me Encontro. Meu vocabulário é quase que um Shimbalaiê, muitos não compreendem mas ainda assim gostam. Da minha vida não farei Tudo Diferente, mas D. Cila pode ter certeza: A DIFERENÇA faz a minha vida! Nem tudo são flores, por mais Bela Flor que possa parecer. Tive a sorte de ter sido abençoado com uma luz quando eu já me adaptava a escuridão, minha salvação foi uma certa Lanterna dos Afogados, que me tirou do meu Altar Particular dando um novo rumo ao meu caminho, e ali então, A História de Lily Braun começou a seguir novos caminhos. Entre rezas e Paracuti, vi a Aurora chegar e só então pude voltar a apreciar aquela Linda Rosa. A Culpa fora eliminada da minha alma, e Quando Fui Chuva voltei a banhar amigos e família com meu sorriso que já não era mais amarelo e tão pouco Laranja. Hoje vivo a minha Filosofia, num Louge bebendo um vinho safra ruim, e sem perder o Trem das Onze, vou seguindo feliz e curando minha alma com pequenas coisas do dia-a-dia, Quase Sem Querer. Criei Escudos, e quando olho para trás peço a mim mesmo: "Ne me Quitte Pas".

domingo, 19 de dezembro de 2010

Dinâmica “quem sou eu”

Essa dinâmica pode até ser mais engraçada e produtiva que a dinâmica “quem sou eu”, já apresentada aqui. Escolhemos um aluno e pregamos em suas costas (de forma a que ele não possa ver) o nome de uma personalidade bem conhecida de todos.

Todos os alunos terão algum tempo para ver, enquanto o aluno fica de costas para a classe. O aluno senta-se então em uma carteira, na frente da classe, enquanto os grupos (de 4 ou 5 alunos, divisão da qual o aluno que está à frente da classe não participa) combinam frases (em inglês ou espanhol, dependendo do idioma que você ensina) que serão feitas, usando-se adjetivos, profissões, e todas as estruturas já estudadas.

O professor pode fornecer aos grupos uma lista das palavras que poderão ser usadas nas frases. Após o tempo determinado (que poderá variar de 5 a 15 minutos, dependendo do nível da classe) o grupo 1 lê sua primeira frase: “you are a woman” – por exemplo.

Quando o aluno achar que já sabe quem é a personalidade que está representando, arrisca e se acertar o grupo que deu a dica ganhará um ponto.

Escolhe-se então outro aluno e nova formação de grupos. Podem-se estabelecer “prêmios” ao final para o aluno que precisou de menos dicas para acertar, o aluno que criou frases que fizeram com que o aluno acertasse, etc. O importante é que pratiquem as palavras dentro de uma competição, que é o que mais estimula adolescentes e crianças.

Brincadeira das Bexigas

Dinâmica para o 1º Dia de Aula.

A brincadeira das bexigas pode ser usada no primeiro dia de aula para animar os alunos e também para transmitir a eles a importância do trabalho em grupo.

Leve um rádio ou qualquer outro aparelho no qual possa tocar música, escolha uma que eles gostem. Leve também um saco de bexigas de forma que possa entregar uma a cada aluno, e peça a eles que cada um encha a sua.

Quando todos já tiverem enchido explique que terão que ficar jogando as bexigas para cima como se fosse uma peteca (mas de forma suave) de forma a que não caiam no chão e que irá fazendo sinal aos alunos que deverão ir saindo da brincadeira. Os alunos que ficarem não podem deixar as bexigas caírem, os alunos vão saindo mas as bexigas que eles estavam jogando continuam no jogo.

No início será fácil mas à medida que você for acenando aos alunos para saírem os outros vão tendo cada vez mais trabalho para equilibrar as bexigas, cada vez em número maior que o de alunos. Termine a brincadeira quando tiver apenas um aluno sozinho tentando manter todas as bexigas no ar.

Pergunte a eles o que acharam da brincadeira, se foi fácil ou difícil. Eles certamente lhe dirão que no início foi fácil, mas à medida que os alunos foram saindo foi ficando cada vez mais difícil. É hora então de você conduzir para a idéia que você quer (se algum aluno já não tiver feito isso) de que o trabalho em grupo também é assim, quanto mais elementos do grupo ficarem de fora na hora da execução, mais trabalho e menos chance de sucesso terão os elementos que estiverem executando o mesmo.

O Imaginar no jogo Teatral com Adolescentes em Cumprimento de Medida Socioeducativa.

Rafael Cunha de Vasconcelos
M. Sc. Paula M. Aristides de Oliveira Molinari - orientadora
musica@faccamp.br
Profº Especialista Cléber de Carvalho Lima - orientador
cleberlima2912@uol.com.br

Faculdade Campo Limpo Paulista
Rua Guatemala, 167, Jd. América
13231-230 Campo Limpo Paulista, SP, Brasil
(11) 4812 9400

Resumo
Este artigo apresenta o qualificador do jogo teatral aplicado a um grupo de adolescentes, como meio de desenvolvimento pessoal. Uma pesquisa qualitativa baseada no livro Estudo de Casos, de Robert K. Yin (2005). Tem foco na reprodução do imaginar usando a arte cênica como recurso expressivo e a música para o despertar da imaginação. Imaginamos trabalhar o senso de justiça, ética e convívio em sociedade. A pesquisa foi aplicada em adolescentes do sexo masculino em cumprimento de medida socioeducativa, de forma que através dos sentidos como a emoção, por exemplo, um canal de descoberta possa ser aberto para que a imaginação se torne um mundo possível.

Palavras chave
Educação, medida socioeducativa, adolescente, Dorival Caymmi, jogo teatral, música, teatro, criança.

Abstract
This article presents the theatrical qualifier applied to a group of teenagers as a means of personal development. A qualitative study based on the book Case Studies, Robert K. Yin (2005). It is focusedon replicating imagine using scenic art and music as a resource base. Imagine working sense of justice, ethics and life in society. The survey was administered to male adolescents in undersocio-so that through the senses and emotion, for example, a channel can be opened to discover that imagination becomes a possible world.article presents the theatrical qualifier applied to a group of teenagers as a means of personal development. A qualitative study based on the book Case Studies, Robert K. Yin (2005). It is focused on replicating imagine using scenic art and music as a resource base. Imagine working sense of justice, ethics and life in society. The survey was administered to male adolescents in under socio-so that through the senses and emotion, for example, a channel can be opened to discover that imagination becomes a possible world.

Keywords
Education, social and educational measures, adolescents, Dorival Caymmi, playing theater, music, theater, children.

1.     Introdução
A pesquisa utilizou o jogo teatral e a idéia surgiu da experiência do professor pesquisador autor, graduado em letras e com vasta experiência teatral, tanto profissional quanto escolar, na necessidade de levar cultura e educação para uma unidade de internação com adolescentes privados do exercício da liberdade.
Acreditamos que o jogo teatral quando usado corretamente em sala de aula (desde que ele, o jogo teatral, tenha um cuidado que vá além da preocupação com o espetáculo), possa ser um grande aliado do professor como meio de transformação do aluno. Transformação esta de extrema importância para o viver escolar da criança e/ou adolescente, tendo como preocupação, também, a formação de personalidade. Queremos frisar que isso se dá desde os primeiros anos da vida escolar da criança.
Tomando como parâmetro os pensamentos de Peter Slade (1978) que defende a idéia de que o conceito do teatro trabalhado em sala de aula serve como um trampolim para o conhecimento particular de forma que a criança e/ou adolescente passa a se descobrir como pessoa e que quando não tem seus valores, que constituem o ser e, por consequência são reflexos de personalidade trabalhada segue para o caminho da infância perdida, aqui optamos pela aplicação junto a adolescentes do sexo masculino cumprindo medida sócioeducativa. Cabe dizer que medida socioeducativa é a medida aplicada pelo estado ao adolescente que comete algum ato infracional (menores de idade que vão desde os 12 aos 18 anos) que tem como natureza impositiva, sancionatória e retributiva, visando à reincidência com finalidade pedagógica e educativa. E é justamente nesta linha de pensamento em que esta parte perdida, desconhecida e não criada do seu próprio eu, passa a ser um elo perdido dando vazão a causas e dificuldades que a criança e/ou adolescente enfrentará no decorrer da sua vida.
Defendendo esta idéia de Slade (1987) que aparece como precursor do teatro criativo, definindo jogo dramático infantil como: “uma forma de arte por direito próprio, não é uma atividade inventada por alguém, mas sim, o comportamento real dos seres humanos.” Segundo ele, o jogo dramático “é uma parte vital da vida do jovem. Não é uma atividade de ócio, mas antes, a maneira de a criança pensar, comprovar, relaxar, trabalhar, lembrar, ousar, experimentar, criar e absorver” (SLADE, 1978, p.17).
Em se tratando da influência do jogo na vida da pessoa podem-se esperar segundo o autor, SLADE, 1978, contribuições específicas de cada categoria. Do jogo projetado pode-se ter probabilidade possível o desenvolvimento de atividades relacionadas à arte, jogos e esportes calmos, bem como a habilidade em ler e escrever. Já do jogo pessoal, espera-se a contribuição na propagação das mais variadas formas de atuação, tais como esportes que envolvem ação, liderança e controle pessoal. O que diferencia um do outro é que segundo Slade (1987), o jogo pessoal envolve o indivíduo num todo, ou seja, coloca-o em interação com o movimento e a caracterização desenvolvendo assim a sinceridade através da fé absoluta no papel representado. Isso quer dizer que a criança e/ou adolescente adquire a responsabilidade de interpretar uma personagem; enquanto no jogo projetado favorece a absorção, pois é trabalhada a mente e não o corpo em sua totalidade. O indivíduo tem o livre arbítrio de transformar um objeto qualquer no que a mente dele ordenar, ou seja, um simples lápis preto escolar pode se tornar um microfone. A criança e ou adolescente faz o uso da imaginação para projetar o que nela se cria. Este processo exerce uma importante influência na construção do indivíduo, comportamento e capacidade de adaptação social, segundo SLADE (1978, p. 19).

1.     Realidade
Com o objetivo de contribuir para o retorno do adolescente ao convívio social através das medidas socioeducativas, a proposta da unidade de internação é a de, com isso, transmitir valores de justiça, ética e respeito ao ser humano. Diante disso surgiu a questão: Como acrescentar tais valores a crianças e adolescentes que tiveram sua infância roubada pelos problemas políticos, sociais e culturais de cada um? Como aplicar a justiça numa realidade em que por muitas vezes estes adolescentes foram alvo do descaso social? Como ensinar-lhes ética, se os únicos exemplos que tiveram na vida muitas vezes não foram às adequadas para o convívio em sociedade, tendo no crime sua única alternativa de sobrevivência? Como pedir e ensinar a respeitarem o próximo quando eles são alvos fáceis de discriminação da sociedade, e, uma vez internados para sempre carregarão o rótulo de “marginais”?
Estes adolescentes vêm de uma realidade ao qual são obrigados a lutarem pela própria sobrevivência e muitos deles chegam à unidade de internação sem ao menos saberem ler e escrever o próprio nome.
O primeiro sentimento trazido da rua quando o adolescente chega à unidade é o de revolta, com isso uma barreira é criada por ele mesmo, como por exemplo: a desconfiança no próximo, a desmotivação para o aprender, a incredulidade em pessoas que demonstrem afeto por ele, e, por fim, o bloqueio em expressar os sentimentos de amor, fraternidade, compaixão e perdão, impossibilitando assim o trabalho do educador em sala de aula. Diante de tal sentimento de revolta, ele tem como auto defesa, o hábil de desconfiar de tudo e de todos. Na rua ele está acostumado a ser o “rei” por onde passa, a ser respeitado no mundo do crime e a criar e vivenciar suas próprias leis. Ao chegar à unidade de internação tudo isso cai por terra, pois como regra da instituição os adolescentes tem de baixar a cabeça e a pedir licença sempre que passarem diante de algum funcionário da unidade, ou seja, ele passa a ter uma coisa que nunca havia tido até então: regras. Um exemplo disso é o horário para as refeições, banho, escovação dental, limpeza de alojamento, aulas, oficinas culturais e profissionalizantes, esporte, televisão, música, dormir e acordar. É neste momento que o papel do educador passa a ser primordial, porém diante da realidade externa do adolescente, tal trabalho torna-se quase que impossível de se realizar da maneira como deve ser, sem a repressão.
Diante destes problemas encontrados despertou-se então a idéia de mudar este sistema. O projeto de aulas de teatro foi apresentado à coordenação pedagógica da unidade de internação socioeducativa, e, com isso surgiram diversos questionamentos sob a alegação de que tal linguagem artística não era a realidade do público atual da unidade. Foi relatado também que já houvera, num outro momento, aulas de teatro e que o resultado não havia sido satisfatório e que o objetivo e foco principal da unidade em questão era o preparo profissional do adolescente. Após um longo debate com outros educadores, junto aos técnicos - (psicólogos), coordenação pedagógica e a direção da unidade chegou-se ao veredicto de que o projeto poderia ser aplicado mesmo já hipotetizando que o resultado seria negativo. Sendo assim a proposta das aulas de teatro foi apresentada aos adolescentes pelo educador mediador.

2.      O projeto inicial.
O objetivo do projeto desde o seu nascimento foi o de quebrar as barreiras criadas por eles mesmos, com a utilização do jogo teatral como um canal para o autoconhecimento. É de suma importância saber que estes adolescentes vêm de uma realidade em que o contato com o teatro é nulo.
O projeto então foi posto na grade de oficinas diárias da unidade e oferecida a eles, uma vez que, com exceção dos cursos profissionalizantes, os adolescentes não são obrigados a frequentar todas as oficinas. O adolescente precisa realizar além das aulas formais do ensino fundamental ou ensino médio, um curso profissionalizante e mínimo de duas oficinas. No primeiro momento apenas um adolescente mostrou interesse nas aulas de teatro. Uma semana depois, devido à falta de procura para a oficina, educador/pesquisador junto à coordenação e equipe técnica selecionou alguns adolescentes para a realização das aulas, tornando-se então uma oficina obrigatória. O critério de seleção foi realizado após análise do prontuário escolar, médico e psicológico destes alunos, tomando como critério aqueles que tinham uma resistência maior em seguir regras, respeitar o próximo e desinteresse escolar.

3.     O Processo
No primeiro dia da aplicação do projeto, a oficina teatral contava com adolescentes dos 13 aos 17 anos, atingindo desde a classe de alfabetização, até os alunos do ensino médio. O projeto experimental se realizou do dia 19 de agosto de 2010 ao dia 27 de outubro de 2010, com três encontros semanais com o tempo de três horas a cada um. Tomando como base o pensamento central de Peter Slade (1978) e como pilar, os jogos teatrais de Viola Spolin (2007). As aulas foram adaptadas para se adequarem à realidade destes adolescentes.
Como esperado, o primeiro encontro foi uma soma de revolta por parte dos participantes, uma vez que estavam sendo obrigados a frequentar a oficina de teatro, ao descaso para com a proposta. Para este primeiro encontro foi preparado uma aula em que inicialmente todos se sentaram em roda para uma conversa. O objetivo desta roda de conversa foi simples, fazer com que eles se apresentassem, ou seja, dizer seus nomes, de onde vinham, do que gostavam entre outras questões. A proposta não foi bem recebida, visto que além da dificuldade de se expressarem, muitos deles se recusavam a dizer de que cidade ou bairro vinham devido a, “Rixa de gangues e treta de boca” [1]. Em seguida foi pedido para que eles deitassem no chão, cada qual com o seu colchonete, e deixassem a imaginação fluir de acordo com os comandos dado pelo educador/pesquisador. Esta atividade também não deu certo, visto que eles não confiavam um no outro a ponto de ficarem deitados e de olhos fechados por medo de um possível ataque de algum adolescente. Visto que este primeiro encontro não teria progresso, o educador/pesquisador explicou então, qual era a proposta daquela oficina de teatro em que o foco não era formar atores e sim despertar a imaginação e a emoção interna de cada um deles. No segundo encontro foi adotado um novo método, em que os adolescentes assistiram a trechos cinematográficos como inserção às artes cênicas.  As cenas foram cuidadosamente selecionadas para que através delas eles pudessem captar e também sentir novas sensações, como o amor, a compaixão, a importância da justiça e a ética.
Nos encontros seguintes a conquista deu-se de forma gradual. Foram usados não só o jogo teatral como recurso principal, mas também a música, a dança e as artes: visuais (imagens em slides de telas reconhecidas mundialmente e fotografias diversas) e plásticas (pintura em tela produzida pelos próprios adolescentes) como recurso. Tais recursos proporcionaram o início de uma sensibilidade da percepção, de foco e postura, tanto pessoal quanto escolar, ou seja, neste momento eles começavam a desconstruir aquelas barreiras citadas anteriormente. Durante atividades de pinturas em tela ou com um caderno simples de desenho, notou-se um desejo em comum misturado a um sonho que predominava. O mar.
Na grande maioria das vezes em que os adolescentes usavam tinta, lápis de colorir, ou os dois, como meio de expressão, a figura do mar com seus barcos, mulheres, sol e gaivotas, eram exposta por eles. Diante disso, o passo a seguir foi o de colocar em prática os jogos teatrais. Os primeiros jogos foram simples, ora de regra ora sem, ora adaptados pelo educador mediador ora adaptados por eles mesmos. Neste momento a participação e envolvimento da classe já era digna de exemplo. O melhor de tudo: outros adolescentes se inscreveram para a oficina.
Tomando como inspiração uma atividade exposta pela professora Erin no filme Escritores da Liberdade (Freedom Writers)[2], foi adaptado, para o jogo teatral, a atividade intitulada: espelho.  Uma linha foi traçada no meio da sala de aula e os dois grupos formados se mantiveram cada um de um lado desta linha.
  
 Algumas questões foram lançadas e como forma de resposta os adolescentes deveriam ir de encontro à linha reta e ficar sobre elas. Exemplos das questões dadas:

·         Se alguém foi privado de sua liberdade por terem transgredido a lei, pisem na linha.
·         Se alguém sentiu revolta ao ouvir o veredicto final do juiz, pisem na linha.
·         Se alguém sente alguma mágoa da vida, não me importa qual seja ela, pisem na linha.
·         Se alguém sentiu a ausência de amor familiar em sua vida, pisem na linha.
·         Se alguém sente esta ausência de amor da família, pisem na linha.
·         Se alguém desta sala gosta de rap, pisem na linha.
·         Se alguém desta sala tem um sonho, pisem na linha.
·         Se alguém desta sala nunca viu o mar de perto, pisem na linha.

Estas e outras questões fizeram com que eles passassem a perceber o quão sensíveis e semelhantes eles eram, visto que os gostos particulares, suas histórias e sentimentos eram quase iguais. Uma vez vivida à sensibilidade e a questão final, referente ao mar, deu-se início ao exercício principal deste projeto. Estes adolescentes realizariam o sonho de conhecer o mar através da imaginação por intermédio do jogo teatral.

3.1    O Imaginar Através do Jogo Teatral
Para as aulas e para a atividade que se seguiu, foi apresentado aos adolescentes o cantor, compositor, músico e artista plástico, Dorival Caymmi. O universo de Caymmi foi lançado e rapidamente captado por eles. Diante da principal fonte de inspiração do artista, o mar. Com Caymmi os adolescentes mergiram na estética poética e cultural sugerida. De acordo com a definição do educador/pesquisador, Caymmi compôs suas obras com tamanha poeticidade e realeza, que as canções pareciam terem nascido espontaneamente, tamanha a naturalidade das músicas e letras que Caymmi compõe. Parecem acontecimentos reais vindos diretamente da natureza para a sensibilidade humana. Com isso, toda a atividade foi embalada ao som da História de Pescador, uma suíte, ou seja, uma sucessão de peças instrumentais, de caráter e ritmos diferenciados que podem ou não estarem ligadas entre si, por uma tonalidade única.
Após apresentação sobre a vida e obra de Caymmi, deu-se início aos jogos teatrais que tinham, por objetivo, despertar a capacidade do fazer de conta, pois, esta é uma das características de extrema relevância para a infância por estar ligada diretamente ao desenvolvimento intelectual e físico do indivíduo.
A primeira proposta do jogo teatral após o contato com as músicas que constituem a obra História de Pescadores, foi a de se expressarem da forma como quisessem, os sentimentos sentidos com a suíte. Eles tiveram como recurso único durante os jogos o corpo e a criatividade, demonstrando onde estavam, quem eles eram e o que faziam, sem emitirem um único som. Tal proposta foi aplicada no decorrer dos encontros sempre interligando uma atividade já realizada anteriormente, com os novos jogos que a eles foram apresentados durante os encontros subsequentes. No decorrer das atividades notou-se o processo individual dos adolescentes em buscar as soluções para os desafios lançados pelo educador mediador, expandindo suas possibilidades de comunicação usando da técnica da expressão corporal. Outro ponto positivo avaliado foi à percepção que cada um passou a ter que observar o amigo, utilizando disso como meio de evolução pessoal, de expressão corporal e cênica.
Ao início de todos os encontros e antes dos jogos, era pedido para que todos fechassem os olhos enquanto ouviam a história da canção. Desta forma, a cada aula novas percepções da música eram captadas e sentidas por eles, fazendo com que a cada jogo diferente mesmo ele tendo ligação com o jogo anterior, se recriassem e tomassem novas formas e rumos cênicos. Sem que percebessem, em pouco tempo de oficina os adolescentes, pelo simples fato de observar um ao outro, quase que automaticamente, passaram a interagir unindo sua cena particular ao do colega, de forma que, quase que involuntariamente cenas teatrais eram desenhadas e traçadas por eles mesmos, sem emitirem um único som, apenas com o estímulo da canção e da emoção momentânea.

4.     Conclusão
Ao final do ciclo de encontros propostos, foi realizada uma reunião junto à coordenação pedagógica e equipe técnica. Com isso, foi constatado que os adolescentes envolvidos no projeto tiveram uma melhora considerável em seu rendimento escolar, social e pessoal. Um ou outro adolescente não conseguiu ter o mesmo êxito pessoal que o outro, porém houve mudanças nítidas quanto ao tratamento para com os funcionários da unidade e o cumprimento de regras que outrora eram transgredidas. O projeto proporcionou aos adolescentes o desenvolvimento da linguagem não verbal; a sensibilidade de se criar e explorar um repertório de gestos com intenção comunicativa; a ampliação da consciência do espaço cênico; o estabelecimento com o colega de cena fazendo-o explorar o próprio corpo e interagir; o poder de reproduzir e assim poder vivenciar as histórias criadas na mente de cada um; a sutileza de reproduzir suas emoções através das pinturas e das artes cênicas tendo como fonte de inspiração a música; o convívio saudável sob um sistema de regras; e o que pode ser apontado como primordial num dos resultados alcançados, a conquista do respeito e amor próprio. Outro ponto positivo avaliado foi que notamos a percepção que cada um passou a ter em observar o próximo, utilizando isso como meio de evolução pessoal, de expressão corporal e cênica. De uma realidade em que seus sentimentos foram ocultados pela sobrevivência, passaram a perceber que a imaginação é um mundo possível.

REFERÊNCIAS
Slade, Peter. (1987) O Jogo Dramático Infantil. São Paulo: Summus,
Boal, Augusto.(2009) Jogos Para Atores e Não Atores. 13º Ed. São Paulo: Civilização Brasileira.
R.I – Recreação Improvisada – Jogos de Improviso e Seus Benefícios.  Disponível em http://www.rimprovisada.wordpress.com/jogos-de-improviso-e-seus-beneficios/. Acesso em: 27 set. 2010, 16:37:14.
Spolin, Viola. (2007). Jogos Teatrais na Sala de Aula. São Paulo: Perspectiva.
Caymmi, Dorival. Caminhos do mar. Disponível em: <http://letras.terra.com.br/dorival-caymmi/924242/>. Acesso em: 27 set. 2010, 12:24:30.
Caymmi, Stella. (2001). Dorival Caymmi. O mar e o tempo. Rio de Janeiro: Editora.
Almir, Chediak. (1994). Dorival Caymmi. Songbook, Vl 2. 3º Edição. São Paulo: Lumiar.
Taborda, Felipe. (2004). A Imagem do Som de Dorival Caymmi. Rio de Janeiro: Globo.
Caymmi, Dorival. Coleção Millennium. São Paulo: Sony Music, [S.D.]. AD6500. 1 disco.
Wikipedia – Livro de Estilo / Cite as Fontes. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Livro_de_estilo/Cite_as_fontes#CD_e_CD-ROM>. Acesso em : 18 nov. 2010, 03:15:02
Fundação Casa –  Disponível em: HTTP://www.casa.sp.gov.br. Acesso em: 18 nov. 2010, 01:05:16.
Yin, K. Robert. (2005).  Estudo de Casos – Planejamento e Métodos. 3º Edição. Porto Alegre: Bookman.
Escritores da Liberdade. Direção: Richard LaGravenese. Produção: Danny DeVito; Michael Shamberg; Stacey Sher. Intérpretes: Hilary Swank; Patrick Dempsey; Pat Carrol; Jason Finn e utros. Roteiro: Richard LaGravenese. Mark Ishan, RZA. E.U.A.: Paramonte Pictures; MTV Films; Jersey Films, c2007. 1 DVD (123 min), widescreen, color. Produzido por Paramont Video Home. Baseado no livro “Freedom Writers” de Erin Gruwell




[1] Rixa de gangues e treta de boca são frases utilizadas pelos menores infratores quando querem dizer sobre a rivalidade de grupos de tráfico, e disputa de um ponto de vendas de drogas.
[2] Interpretado pela atriz Hilary Swank, no qual a personagem Erin Gruwell lecionava para um grupo de alunos que na sua grande maioria estavam em cumprimento de medida socioeducativa.

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