"Um chute em meu estômago e uma facada em minha alma - Rafael Vasconcelos"
“_Sabe  quando reformou a cozinha, comprou um livro de receitas, e disse que  iria aprender a cozinhar? Pois bem! Isso é o mesmo que ir meditar na  Índia. Só que em cultura diferente.” (*)
Deixo um convite a Todos, não importando o sexo, e quase para todas  as faixas etárias – para os adolescentes também. Assistam e leiam – “Comer, Rezar, Amar“. Para que conheçam,  entendam, sintam o que é ser mulher, e o que é ser uma pessoa de verdade, nos entindo de paz espiritual e pessoal. Porque nele não é mostrado apenas a  cabeça da personagem principal, mas de muitas. Desde a cabeça de uma  menina aos quatro anos de idade, até de mais idosas. Aos homens, fica um  convite especial. Verão qual é o limite que leva a uma mulher a dar um  basta numa relação. Mesmo ainda sentindo amor por ele.
Assim, após assistirem, o convite é para uma troca de impressões. O porque disso? É que a partir daqui, o texto terá spoiler.  Hesitei um pouco se traria ou não, mas senti uma vontade intensa em  destacar vários trechos desse filme. O que ficaria complicado sem contar  os detalhes.
 Em “Comer, Rezar, Amar“,muitos trechos são como peças de um quebra-cabeça para  se chegar a mente feminina. São várias reflexões que na montagem final  temos o universo singular e particular de cada uma delas. E porque não,  de cada uma de nós.
“Ter um filho é como fazer uma tatuagem na cara. Você precisa realmente ter certeza de que é isso que você quer antes de se comprometer.”
A Liz encontra-se às vésperas de completar trinta anos de idade. Que   seria uma data marcada para uma mudança radical em sua vida. Algo   decidido num passado recente, por ela e o então marido, Stephen (Billy   Crudup). Talvez uma promessa feita no calor da paixão. Haviam decidido   que ela sossegaria, teriam filhos, que se dedicaria mais ao lar. Tudo já   planejado. Num processo depressivo, em vez de remédios, decide rezar.   Pedir a Deus que lhe mostre um caminho. E é quando se houve: se sua   mente estava conturbada, seu corpo, cansado fisicamente, clamava por uma   boa noite de sono.
“As pessoas acham que a alma gêmea é o encaixe perfeito, e é isso que todo mundo quer. Mas a verdadeira alma gêmea é um espelho: a pessoa que mostra tudo que está prendendo você, a pessoa que chama a sua atenção para você mesmo, para que você possa mudar a sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que você vai conhecer, porque elas derrubam as suas paredes e te acordam com um tapa. Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Não! Dói demais. As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a você uma outra camada de você mesma, e depois vão embora. “
“Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão. Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. Bem-vinda à experiência humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados.“
A cena da Julia Roberts saboreando um espaguete – e do jeito que eu  amo: com muito molho de tomates -, ficará na memória. Sabe aquele prato  que te leva a esquecer do mundo? Que lhe vem à mente – Não quero que nem  Deus me ajude!? A cena em si, nos leva a pensar nisso. E regada ao som  de: Der Hölle Rache Kocht In Meinem Herzen.
Mas esse período não ficou só em comilanças, e conhecendo a cultura e  o jeito de levar a vida dos italianos. Liz faz uma descoberta de si  mesma. A de que há partes da sua personalidade que ficarão para sempre.  Que se adaptarão a cada nova realidade que a vida lhe trouxer. O que me  levou a pensar nessa frase da Clarice Lispector: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.” Liz aprenderá a canalizar essas forças dentro de si, nos períodos passados nos outros dois países.
Ainda na Itália, lhe vem o desejo de encontrar a sua palavra: aquela  que a definirá. Que será o seu norte. E a palavra vem na Itália, mas só  terá consciência dela em Bali. Voltarei a ela mais para o final.
“Galopamos pela vida como artistas de circo, equilibrados em dois cavalos que correm lado a lado a toda velocidade – com um pé sobre o cavalo chamado ‘destino’, e o outro sobre o cavalo chamado ‘livre arbítrio’. E a pergunta que você precisa fazer todos os dias é: qual dos cavalos é qual? Com qual cavalo devo parar de me preocupar, porque ele não esta sob meu controle, e qual deles preciso guiar com esforço concentrado.”
Essa sua passagem pela Índia, nos leva do riso às lágrimas. A  diferença cultural, mais que deixá-la em choque, a levará a se por em  xeque. Ela quis aprender a se devotar a algo maior. A encontrar a  espiritualidade em si.
Liz, Richard e Tulsi foram parar ali por motivos diferentes, mas  igual no que buscavam: depurar o passado, se adequarem ao presente, para  então seguirem mais confiantes para o futuro. Inconscientemente, um  ajudou o outro nessa busca. Dos três, o fardo maior trazido do passado,  era o de Richard. Perdera um tempo enorme de não ver o filho crescer,  por não o ter colocado antes em sua vida. Voltando ao tema do início. De  que maternidade e paternidade tem que querer de fato. Até pela  responsabilidade que terá com a criança. E quando Liz consegue perdoar a  si própria… minhas lágrimas desceram. Leve. Por me levarem a pensar num  momento meu.
“Eu quero vê-la dançar novamente“… Livre, era chegada a hora de seguir em frente. Próxima parada: Bali.
“Imagine que o universo é uma imensa máquina giratória. Você quer ficar perto do centro da máquina – bem no eixo da roda -, e não nas extremidades, onde os giros são mais violentos, onde você pode se assustar e enlouquecer. O eixo da calma fica no seu coração. É aí que Deus reside dentro de você. Então, pare de procurar respostas no mundo. Simplesmente retorne sempre ao centro, e sempre vai encontrar a paz.”
Se na Índia, Liz se livrou de bagagens inúteis para seguir em frente,  em sua passagem por Bali iria aprender de fato a adequar sua  personalidade com tudo mais a sua volta. A ter um equilíbrio, até quando  a vida lhe tirasse dele.
Ao longo dessa sua peregrinação, Liz convive com várias mulheres. De  culturas diferentes. Algumas, como ela, nadando contra a correnteza, ou  pelo menos, tentando. Mas mesmo as que seguem como reza a tradição, não  estão infelizes. Esse é um dos pontos altos desse filme. É um verdadeiro  ode a alma feminina.
Pausa para falar do ator, ou melhor, do homem: Javier Bardem. Ele  está um tesão nesse filme. A maturidade o deixou mais sedutor. Lindo  demais! Mesmo eclipsado pela performance da Julia Roberts, eu gostei dos  dois juntos. Deu química.
Seu personagem é um brasileiro que adotou Bali como Lar. Tal como  Liz, é alguém que ama viajar. O prazer nisso, até por força da  profissão. No momento da estória, ele é um Guia Turístico em Bali. Leva  Liz a conhecer aromas e sabores da cultura local.
Fazendo ele um brasileiro, fica difícil não comentar duas coisas:
- o filme passa a ideia de que pais brasileiros beijam seus próprios filhos na boca. De que isso é algo cultural. Como eu não li o livro, não sei de onde tiraram isso. Não há esse costume aqui.
- o lance dele dizer muito “Darling!”. Se é como “Querido(a)!”, também o costumeiro por aqui, ganha a conotação de algo superficial. Mas o seu personagem passa a ideia de um tratamento afetuoso, de intimidade com a pessoa.
- o filme passa a ideia de que pais brasileiros beijam seus próprios filhos na boca. De que isso é algo cultural. Como eu não li o livro, não sei de onde tiraram isso. Não há esse costume aqui.
- o lance dele dizer muito “Darling!”. Se é como “Querido(a)!”, também o costumeiro por aqui, ganha a conotação de algo superficial. Mas o seu personagem passa a ideia de um tratamento afetuoso, de intimidade com a pessoa.
É o único ponto negativo em todo o filme. Nem a longa duração do filme, me fez perder o brilho nos olhos. Até porque, sendo bem contada, eu gosto de uma longa estória.
Como citei anteriormente, “Comer, Rezar, Amar” traz  várias falas reflexivas, e uma delas vem com a palavra que Liz então  escolhe para si. Que para mim, é a que melhor traduziria como deveria  ser uma relação a dois: attraversiarmo. É, ela  a escolheu na língua italiana. Ela faz a ponte para a união de dois  seres distintos. Donos de suas particularidades, um não anulará isso no  outro. Saberão encontrar o ponto em comum, e respeitando as diferenças.  Mas principalmente, respeitando o parceiro, a união, o porto seguro que  farão com essa relação.
E é Ketut que leva-a a descobrir que estava pondo tudo a perder, ao  voltar aos velhos hábitos. Deveria se entregar de corpo e alma a esse  universo que chegara à sua porta. Isso, se colocava fé nessa relação.  Até porque, os relacionamentos certinhos demais, de outrora, nunca a  deixara satisfeita. Também, algo como o jovem Ian (David Lyons) propunha  não era o que queria. Então, por que não vivenciar o que Felipe lhe  propôs? Uma ponte entre NY e Bali… Em sua despedida ao Ketut, minhas  lágrimas desceram…
A estória, ou as estórias, a Fotografia, a Trilha Sonora,  as atuações… tudo em harmonia para um filme nota 10. E que entrou para a  minha lista de que vale a pena rever. Não deixem de ver. 
Por: Valéria Miguez (LELLA).
Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love). 2010. EUA. Direção: Ryan Murphy. +Elenco. Gênero: Drama, Romance. Duração: 133 minutos. Baseado no livro homônimo e autobiográfico de Elizabeth Gilbert.
(*) Foram tantas as Citações, que  essa logo no início, me  fugiu um pouco a lembrança palavra por palavra.  Quando eu encontrar a  transcrição literal, eu trarei para cá. Por  hora, fica o sentido da fala.
 06:48
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 Rafael Vasconcelos
Rafael Vasconcelos
 

 








 
 
 
 
 


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